Resenha Los Porongas no GOMA - direto do Portal Fora do Eixo (06/05)

5/07/2008 12:37:00 AM - Goma - Cultura em Movimento

Ademir Almeida para o GOMA
Vídeo de Marco Nagôa, finalização de Tássio Lopes



Os integrantes de grupo acreano Los Porongas se mostravam ansiosos para subir no palco do Goma ontem (04/05) minutos antes de seu show. “Da primeira vez que estivemos aqui no Jambolada, podíamos tocar apenas 30 minutos. Da segunda vez no Conexão Telemig (agora Vivo), nosso show foi interrompido por motivos externos. Agora vamos poder tocar pra valer!” dizia Diogo Soares . Some isso ao fato da empatia nata existente entre a sonoridade dos Porongas e o público uberlandense, fatos daqueles que só acontecem em verdadeiros “milagres artísticos”. Resultado: o que seria uma apresentação de pouco mais de 40 minutos, tornou-se a execução completa do disco homônimo dos rapazes, com direito a dois covers e público cantando as canções do início ao fim. Os Porongas foram simplesmente impedidos de abandonar o palco sem um bis e desde já realizaram um dos shows mais bacanas e emocionantes da história da casa. Emoção esta perceptível tanto por quem suava em cima do palco, quanto para quem dele os olhos não desgrudava. Cumplicidade de irmãos, quem sabe.


Enquanto uns dormem por Los Porongas no GOMA

Chamados de "Os novos heróis do Acre", escutar o disco Los Porongas, de 2007 é um exercício de deleite poético para os ouvidos e um choque n´a alma e no coração. Uma verdadeira aula de domínio poético e humildade intelectual que pouca vezes pôde-se presenciar . A acuidade na produção de suas letras e melodias, com suas assonâncias e encadeamentos, assustam mesmo aqueles que trabalham com música a muito tempo. Quem não escutou "Lego de palavras" ainda perdeu uma das faixas mais bem trabalhadas e escritas do ano que passou-se.

(Este que vos fala lembra perfeitamente da Jambolada 2007, nos seus poucos 30 minutos de show, sentiu naquele ambiente barulhento e movimentado, o silêncio preso da respiração da grande maioria dos espectadores, não raros com lágrimas brotando dos olhos.A sinceridade pungente e a paixão que aqueles rapazes demonstravam em cima do palco comoviam.)

Apontamentos estes que nos fazem pensar que o rock nacional passa por seu processo de descentralização ( e maturidade ) artística, a semelhança de outras formas, como a literatura (vide o fato que um dos maiores escritores brasileiros contemporâneos é o amazonense Milton Hatoum e a redescoberta da crítica literária moderna da obra de Guimarães Rosa). Não é a toa que grande parte das melhores bandas do país atualmente (Charme Chulo, Vanguart, o próprio Los Porongas, dentre muitos exemplos) mesclarem, de maneira brilhante, o melhor produzido da estética musical mundial com elementos regionais, não os limitando, mas, pelo contrário expandindo-os a recepções consumidoras universalizantes, palatáveis a apreciação de qualquer humano, acima de barreiras estéticas, lingüísticas, culturais.

Não se enganem, leitores, ao acharem que o debate periferia x centro aqui levantado ( e já muito sedimentado) restringe-se unicamente a arte. Estamos falando sobre dinheiro. A verba destinada a cultura, em quase todos os estados e municípios brasileiros continua sendo encarada por nossos governantes como uma triste obrigação, não uma aspiração a criação de uma cena consolidada.

A formação de coletivos culturais, principalmente aos fora do eixo do sudeste, é uma tentativa de escape a asfixia cultural do qual o resto do país foi vítima em sua história. Anônimos que não esperam conscientização estatal ou privada trabalham diariamente, a passos de tartaruga, recebendo muito pouco ou praticamente nada monetariamente para dedicarem-se de maneira absurda neste processo de quebra de monopólio artístico. Não cabe a nós esperarmos a salvação cair do céu sobre nossas cabeças. Seguimos passo a passo, não tendo timão, mas procurando certamente uma direção maior.

Em tempo: Carol Freitas, vocalista do Filomedusa, também do Acre, revelou, em entrevista para a WebTV do Coletivo Goma (em breve no ar), que receava a recepção do público mineiro pois acreditava, segundo ela, que os nascidos nas Alterosas seriam exigentes artisticamente, respaldado pela sua história de produção cultural.

A vocês, acreanos, nosso profundo agradecimento pela doçura, respeito, humildade e simpatia. Exemplos como o de vocês, nos fazem acreditar que é possível começarmos este caminho novamente, quem sabe desta vez, observando acertos e corrigindo erros, de maneira mais madura e consciente.

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